Friday, April 20, 2007

ACERCA DA VITÓRIA DE SALAZAR NO CONCURSO "GRANDES PORTUGUESES" NA RTP



Muito tem sido discutido, com ou maior coerência e racionalidade, sobre a Vitoria de uma das mais polémicas figuras portuguesas do Século XX português. António de Oliveira Salazar, símbolo da Ditadura Corporativista que marcou Portugal durante o tempo em que governou os destinos do nosso país durante mais de trinta e seis anos. Homem que sempre proibiu a Democracia e condicionou a liberdade ao seu povo, acabou por vencer, de forma bastante expressiva, para desespero de alguns saudosistas dos tempos do PREC e não conformados por já não se acharem os "Apóstolos da verdade", apenas segundo a versão das suas cartilhas ideológicas, um concurso recheado de polémicas e debates bastante animados, que indirectamente reacenderam o gosto pela História e a reflexão sobre o ensino da História de Portugal e sobre o civismo(?) na nossa terceira República Partidocrata e Semipresidencialista.

Hoje, em vez de escrever um comentário sobre esse caso que tantos ódios e paixões tem despertado ultimamente, gostaria de mostrar um comentário de um advogado que escreveu para o jornal O DIABO, no dia 3 de Abril deste ano: No final, irão perceber a razão.

Com a devida vénia do jornal O DIABO

A PRESENÇA DE SALAZAR

"Houve um Portugal do Estado Novo
dentro e fora do País, e esse Portugal
foi o último que se assumiu e viveu
como um destino"

EDUARDO LOURENÇO

O professor António de Oliveira Salazar morreu pelas nove horas e quinze minutos do dia 27 de Julho de 1970.
Esteve no governo de Portugal desde 27 de Abril de 1928, como ministro das finanças primeiro, e como Presidente do Conselho de Ministros desde 5 de Julho de 1932.
Apesar de, sobre o seu desaparecimento deste mundo terem já decorrido mais de 36 anos, cada vez se fala mais dele, continua o seu nome a ser invocado e nunca o foi tanto, como nos tempos que correm.
Após a Revolução de 1974, procurou-se diabolizar a sua memória. Salazar passou a ser culpado e responsabilizado por todas as malfeitorias do regime, carregando a sua memória com todos os ódios e rancores dos próceres e militantes do reviralho, como dos conversos fanáticos de última hora.
Ao regime do Estado Novo e ao seu mentor, passaram a ser assaltados todas as malfeitorias, sem que desse tempo transparecesse algo de útil ou de benéfico.
Aqueles que, de maior idade, fizeram percurso das suas vidas nos tempos e sob a tutela política do regime passado que conservaram a integridade da memória e a lucidez do raciocínio, souberam que não era assim e logo acusaram o logro. Os mais jovens, a quem na sociedade e na escola, comunicação social e manuais de História impingiram mentiras ocultando a verdade dos factos, deturpando passados e memórias, embarcando nele, de consciências violentadas.
Uma propaganda constante, intensiva e feroz, determinou a atribuição de todos os qualitativos detestáveis ao Estado Novo e ao seu maior responsável, numa campanha cerrada de rancores e de ódios, como o país já não via desde a Viradeira de 24 de Fevereiro de 1777 quando, com a morte de D.José I, se abateram sobre o ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, agora caído em desgraça, todas as maldições dos perseguidos de outrora e triunfantes de agora.
Na Viradeira de 1974 sucedeu o mesmo. Foi exorcizado o regime vencido e caídos em desgraça, foram perseguidos os governantes vivos e amaldiçoada a memória dos mortos.
Passou a estar na moda, a ser correcto e de bom tom, proclamar a maldade sistemática do passado, tecer loas à novidade, adorar o regime novo, venerar a democracia formal e invocar prisões, torturas e perseguições. Quem não tivesse estado preso, ou, pelo menos, sido vítima de alguma carga polícia em correrias ou arruaças de antes de 25/04, nem era bom cidadão, nem pessoa de bem, nem digno de respeito ou consideração social e, muito menos, aceitável em função administrativa pública ou privada.
Com o tempo, tudo se foi modificando.
Os portugueses começaram a aperceber-se das inverdades e dos logros, das trapaças e das fraudes que lhes tinham sido impingidas.
E tão baixo desceu a consideração da gente comum pelos seus governantes, que passou a ser corrente ouvir-se nas rua e nos cafés, nos mercados e nos transportes públicos, o comentário escarninho, dito e repetido, mas dorido de que "nem dez salazares endireitam isto". "Isto", é o Portugal pós-Abrilino.
Os portugueses começaram a lembrar-se dos tempos em que seus pais, com o seu salário, bastavam ao sustento da casa e suas mães, no lar doméstico, com os prodígios de zelos e poupanças governavam a economia caseira, proviam às necessidades da família educavam a prole, acompanhavam as crianças e os velhos.
E começaram a comparar com os tempos posteriores em que o salário do pai, tornado insuficiente. obrigou a mãe a sair para o trabalho deixar os filhos entregues a si próprios e, ainda assim, a família, todos os meses a correr ao banco e à usura, para levantar e gastar o novo salário antes de o ganhar e de o receber e de tal modo a entrar na espiral de crédito em que as prestações se acumulam vencidas e não pagas e os velhos são armazenados em lares de tão parcas condições como altos preços.
Lembram-se ainda os portugueses da tão difamada Mocidade Portuguesa que orientava e estimulava a juventude de então para actividades ao ar livre e de contacto com a natureza e comparam a entrega dos jovens de agora à sedução da vida nocturna, das discotecas, das bebidas fortes, das drogas estimulantes, dos alucinogénicos, das madrugadas corridas de bar em bar e de aventura em aventura, na tentação da violência e do crime, gratuitos (ou não).
Lembram-se os portugueses da velha História, Ilustrada, dos seus livros de leitura, segundo a qual em família modesta e honrada, de pai, mãe e filho, o pai sai para o trabalho da lavoura e de lá regressa com belo e suculento cacho de uvas que oferece à mulher em gratidão pelos seus cuidados domésticos. A mulher, comovida e agradecida, não toca no cacho de uvas e dá-o ao filho, para que o coma na escola. O míudo, pensando que quem merece a uvas é o pai, trabalhador esforçado e dedicado, não lhes toca e oferece-as ao progenitor. E assim rodou o belo cacho de uvas pela família, cada um se privando delas em proveito do outro.
Se o tema fosse tratado hoje, sê-lo-ia de modo bem diferente. A lição diria que as uvas tinham sido comidas pelo primeiro que as apanhou, deixando os restos para os outros limparem.
Com efeito, a paradigmas de esforço, de ternura e de altruísmo, sucederam outros de comodismo, de consumismo e de egoísmo.
Hoje, os filhos exigem dos pais e estes dos filhos, o que uns e outros, não podem, nem sabem, dar-se reciprocamente. As escolas, são meros percursos para justificar diplomas sem valor prático. Era, indubitavelmente, maior o somatório de conhecimentos em quantidade, em qualidade e em utilidade, de um português saído da antiga instrução primária que hoje se diz equivaler ao quarto ano de escolaridade, do que o de qualquer contemporâneo com diploma do décimo segundo ano.
E a comprová-lo, aí está o renovado interesse actual pelos velhos livros de instrução primária, reeditados, que se exibem e vendem nas livrarias de todo o país, ostentando os símbolos da Mocidade Portuguesa.
Meio Século Depois!
Lembram-se, os portugueses da respeitabilidade, cultura, maneiras, prudência dos governantes de outros tempos e comparam com os estadistas de agora, saídos das simpatias partidárias e dos jogos de influências políticas.
E lembram-se, particularmente do Presidente do Conselho de outrora, inteligente, discreto, modesto, recolhido, a estudar com dúvida e a realizar com a fé e comparam com os primeiros ministros de agora, fátuos, impulsivos, levianos, mediáticos, a berrar e a gesticular em aparições quotidianas, a prometerem felicidades futuras e a concretizarem desgraças presentes.
E lembram-se de quando o país, em 1940, doze escassos anos após a Revolução, se apresentou com o orçamento equilibrado, a moeda desvalorizada, fartas reservas de moeda e ouro, as finanças refeitas, a economia restaurada, a celebrar em paz, com pompa e circunstância na Grande Exposição do Mundo Português, os seus 800 anos de independência (1140) e os 300 anos da Restauração da sua independência (1640), ao tempo em que além fronteiras explodia tragicamente a guerra que havia de destruir cidades inteiras, matar e inutilizar milhões de seres humanos e que, por fim dividiria o mundo entre potências do Oriente e do Ocidente, sob a ameaça, que se mantém, de destruição maciça.
Comparam os portugueses, aquela exposição com a recente Expo Internacional (que foi chic pronunciar-se Echxpó), em que o país se endividou para exibir pavilhões estrangeiros e jorros de água e de que restam mamarrachos de betão, centros comerciais, cafés e restaurantes, a minimizar derrapagens financeiras. Ao contrário, da Grande Exposição do Mundo Português de 1940, ficaram para a posteridade, o monumento das Descobertas, as Docas de Belém, a Praça do Império, o Museu de Arte Popular, tudo pago e saldado a pronto, pelo tesouro nacional.
Lembram-se os portugueses dos tempos em que deixavam as chaves nas portas e deambulavam, em total segurança, a qualquer hora do dia ou da noite, pelas ruas, praças e jardins das suas terras. E comparam com os assaltos, os roubos, os sequestros e agressões que os vitimam agora, sem protecção eficaz e sem reparação capaz.
E lembram-se os portugueses de quando os seus soldados eram chamados a pegar em armas apenas para defender as terras que eram suas e agora fazem em defesa de terras alheias.
E lembram-se de quando tinham, ao pé da porta, médico e hospital e as crianças nasciam nas suas cidades, vilas e aldeias, quando agora se morre à espera das ambulâncias e se nasce nelas.
Por tudo isso - e muito mais poderia invocar-se, é natural que os portugueses tenham caído em si, que compararem o passado com o presente e que constatem quanto perderam, na realidade, em suficiência e identidade, sob a tutela de uma classe política nada esclarecida, vazia de ideias, indisciplinada, desordeira, sôfrega e insaciável, que, depois de desbaratar o pecúlio da Nação lhe trocou a alma a patacos e a colocou sob os interesses dúbios e as ordens prepotentes dos unionistas magnatas de Bruxelas.
No domínio da Plutocracia sob mascarada democrática, não há pois que estranhar, que os portugueses, desiludidos e angustiados, se virem cada vez mais para o passado, recordem o honesto e notável estadista que saiu do poder tão pobre quanto nele entrou após 40 anos de Governo A BEM DA NAÇÃO.
Não obstante a pertinácia com que os políticos e historiadores fanáticos e tendenciosos se têm afadigado, em vão, em denegrir o estadista e a sua época, não admira que o povo nas ruas e nos cafés, nos mercados e nos transportes, invoque cada vez com maior frequência e devoção, o seu nome, que a figura do homem e do governante seja tratada em artigos de imprensa e em livros de grandes tiragens e edições sucessivas e que os portugueses avalizem a memória do seu falecido Presidente do Conselho com o seu voto, sempre que a oportunidade se proporciona.
Não quer isto dizer que desejem o impossível regresso de Salazar nas circunstâncias nacionais e mundiais presentes. Nem sequer o falecido estadista se entenderia com elas.
Salazar teve o seu tempo e a sua época e as suas circunstâncias. O modo como as viveu e enfrentou, merece o reconhecimento e a gratidão dos portugueses. Por isso respeitam a sua memória, fazendo-o simultâneamente, como homenagem ao passado saudoso e como protesto contra a bagunçada actual.
Deste modo, e só deste modo, Salazar está ainda presente na memória do povo, mais de 36 anos depois de morto e a repousar fisicamente na modesta campa do cemitério do Vimieiro sob a humilde campa A.O.S.
E tudo é assim, para desespero da nossa pobre e petulante classe política e para alimento da descabelada fúria dos indigentes detractores, incapazes de sentirem e de entenderem a alma do Povo, cujo património usurparam.

GODINHO GRANADA, ADVOGADO 3- 04-2007

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